Você já deve ter visto por aí, em uma empresa, ou até mesmo em alguma casa, o que chamamos de cinto ergonômico. Cinto esse que para algumas pessoas, vira um pouco de mágica, superproteção.

Existem diversas pessoas que utilizam esse cinto para controle de dores lombares. Vale ressaltar, que o surgimento dessas dores pode ter diversos fatores, conversamos em um outro artigo sobre isso.
Fica a pergunta: usar o cinto é bom ou não?
Importante entendermos, que o cinto não é considerado um EPI, visto que não tem número de C.A., e alguém me explica o porquê?
O porquê disso, se chama “Divergência Acadêmica”.
Essa divergência pode ser vista através dos seguintes autores: Enquanto Mitchell (1994), Kraus (1996), Roelofs (2007) conseguem constatar em seus estudos uma diminuição de dores lombares através do uso do cinto ergonômico. Reddel (1992), Niosh/CDC (1998), Wassel (2000) relatam aumento de dias afastados ou resultados inconclusivos para os colaboradores que utilizaram o cinto ergonômico. Além, do estudo do Van Poppel que de maneira bem peculiar evidenciou em seu estudo, após o uso do cinto ergonômico, diminuição de dias afastados para quem já havia tido dor lombar e aumento de dias afastados para quem nunca havia tido dor.
Sendo assim, fica bem complexo falar em eficácia real ou não. O que sabemos, inclusive pelas vias práticas, é que o “Efeito Placebo” da utilização de um equipamento como esse, é muito grande. Já ouvi relatos como: “agora sim, consigo carregar até mais peso”, “Nossa, minha dor já sumiu”.
O que muitas pessoas não sabem é que existem potenciais efeitos adversos do uso destes equipamentos e que devem ser considerados, os principais são: desconforto devido ao calor, problemas dermatológicos, aumento da pressão arterial, aumento da confiança do trabalhador e, portanto, o surgimento de más posturas, além de um ponto chave, diminuição do tônus muscular. Um exemplo que gosto bastante de aplicar nas palestras ou eventos, é sobre aquele atleta que usa tornozeleira. Essa tornozeleira, quando não bem utilizada pode desencadear o enfraquecimento das musculaturas adjacentes. O resultado é que, quando esse atleta não utiliza a tornozeleira ele tem um aumento na possibilidade de lesão, por conta dessas musculaturas estarem “dependentes” do uso de um mecanismo externo.
Quando se tem essa consciência, e através de tudo o que vemos, sabemos que o uso do cinto ergonômico é muito específico e depende de cada pessoa. Além disso, se realmente optar por esse uso, é mais que necessário uma orientação muito rígida.
Algo que nos preocupa, enquanto provedores de qualidade de vida, é que algumas pessoas usam os coletes posturais e cintos ergonômicos por conta própria, ou pior, para uso estético. Eu já ouvi uma pessoa falar que utilizava o cinto para diminuir a circunferência da cintura. Um absurdo!
Enquanto isso, vamos nos pautando em ações técnicas e acadêmicas. Para tal, um bom Programa de exercícios físicos e um intenso trabalho nos treinamentos e conscientizações das posturas corretas durante o transporte manual de carga, são muito mais eficazes do que qualquer equipamento.
Trabalhe a musculatura que envolve o seu trabalho, fortaleça, pois esse é o seu principal instrumento, seu corpo, sua saúde!
Thiago Negrini Lima Quadros (CREF: 068889-G/SP) – Ergonomista Sênior e Sócio Proprietário da Transforma Corporate. Docente do Curso de Educação Física da Faculdade Anhanguera de Sorocaba desde 2012.